domingo, 14 de março de 2010

Festa a Fantasia

Can’t stop what’s coming, can’t stop what’s on its way, o vestido é pesado e o corpete é mais apertado até do que se espera de um corpete. Os sapatos são desconfortáveis e baixos, e ela queria ser a mais alta do salão. Mais até que os homens e quase tocar o lustre de cristal. O vestido também tem cristais, não são diamantes, ela pensa que o nome seja zircônia; brilham e machucam os olhos, um perigo para os portadores de olhos e cabeça que se encontrem na festa. Can’t stop what’s coming, can’t stop what’s on its way, é difícil ser princesa, é difícil ser coroada. O vestido da Princesa é imaculadamente branco e os brilhantes têm as cores do brasão da família. O vestido é odioso e o baile, de máscaras. Só mesmo a Princesa para ser coroada num baile de máscaras. Será inútil, pois mesmo que a máscara dela ocupe toda a sua cabeça a Princesa será reconhecível. A coroa da Princesa havia pertencido à mãe e era de ouro maciço, pesada demais para uma cabeça feita de vento, e mais pesada ainda para um pescoço solitário. You don’t need my voice, girl, you’ve your own. A Princesa pega sua máscara imaculadamente branca com os mesmos cristais das cores do brasão da família e desce com seu detestável vestido e seus sapatos torturantes. A cerimônia é rápida porque ninguém dá atenção à Princesa que se torna Rainha, nem à coroa que podia comprar as propriedades de todos os presentes. É duro para a Princesa. Eu posso entendê-la, qualquer um pode. É triste saber que a gente nunca vai ser tão bom quanto os outros. A Princesa dança a noite inteira e recebe com doçura as homenagens que lhe são cabidas e prestadas com essa mesma consciência. No dia seguinte encontram a Princesa com a máscara ainda no rosto e a corda enfeiando sua delicada gargantilha de ouro.

 

5 comentários:

Mayra disse...

mi.

Bianca Caroline Schweitzer disse...

seus outros dois estavam bem, bem, bem melhores... mas eu adorei essa imagem .-. (ah, o de menos)

Carolina disse...

O pensamento de que nunca seremos tão bons quanto os outros é sempre muito cruel para nós mesmos. Eu a entendo, de verdade. E por isso fico genuinamente triste por ela.

(em tempo, adorei a maneira como tu inseriu determinadas palavras no texto, que não o tornam nem uniforme nem homogêneo; foi sutil, mas acho que acabou imprimindo uma identidade gostosa).

Tangerina disse...

O pensamento de que nunca seremos tão bons quanto os outros é sempre muito cruel para nós mesmos. Eu a entendo, de verdade. E por isso fico genuinamente triste por ela. [2]

Ficou bonito, como sempre. Mágico e humano. ♥

Letícia Dias disse...

O pensamento de que nunca seremos tão bons quanto os outros é sempre muito cruel para nós mesmos. Eu a entendo, de verdade. E por isso fico genuinamente triste por ela. [3]

Eu me identifico com a Princesa. Mais do que eu gostaria.

Incrível como você faz até o suicídio parecer poético!

 
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