quinta-feira, 8 de abril de 2010

L'amour

 Meu nome é Mayra e eu não sou rainha. Aliás, não era. Quando elas me convidaram para esse palácio estranho feito de nada acho que me tornaram uma delas. Não se preocupem, minha cabeça está muito firme sobre os ombros e o pescoço comprido. Elas aliás gostam muito da minha cabeça: tenho o rosto fino e acho que tenho mesmo cara de rainha. Elas seguidamente me dizem isso e eu agradeço e ouço e anoto. Minhas mãos já estão com calos por causa das canetas. Eu anoto tudo que elas dizem e tenho reproduzido fielmente. Elas mentem muito, e eu também. Mas me pediram que não falasse delas por enquanto, que falasse de mim mesma. Eu não sirvo para falar de mim mesma; escrever talvez; mas elas queriam que eu só falasse e dessa vez quem anotaria seriam elas. Quem segura as canetas é Maria Antonieta, ela mesma se oferece, retribuindo o favor. Eu vejo o papel se rasgar por baixo da ponteira. Ah! Certo! Eu. Eu fumo, tenho bom coração, tenho um caráter talvez duvidoso, tenho tatuagens — elas aliás são fascinadas por tatuagens, passam os dedos mortos pelas minhas com encanto — e escrevo. Talvez essa seja a característica mais importante. Não sei o que elas querem que eu diga. Não sei o que o mundo quer que eu diga, só sei o que eu quero dizer — e digo. Mas confrontada assim, nessas perguntas a queima-roupa, e com as minhas rainhas de testemunha? Eu às vezes tenho medo de que elas me ponham pra fora. Mas não vão, porque nos damos muito bem. E não é medo porque os tapetes daqui são tão mais bonitos — no meu quarto colocaram um bem felpudo com estampa de zebra, veja só que amor — e as cortinas tão mais bonitas e os vestidos e sapatos e roupas e vozes e histórias. Eu me sinto uma delas. Eu sempre me senti uma rainha coroada e minhas tatuagens, quase todas, se não são explicitamente coroas, têm alguma realeza implícita. É tão a minha cara, não duvido que vocês já tenham notado. Eu sou do tipo que tem coroas e corações tatuados e não sei me perdoar quando não me faço jus. O mundo pode me perdoar, mas vou contar às minhas rainhas um segredo: eu não sou o mundo. Eu não sei o que sou, mas não funciono como o mundo. Talvez eu só seja uma rainha. É, respondo para mim mesma, entre uma tragada e outra, olhando pensativa; eu sou uma Rainha.

5 comentários:

Mayra disse...

*olhos marejados*

Katie disse...

Nossa, that's soooo May que eu nem sei como você faz isso, meu monstrinho vermelho!
Ela é exatamente esse tipo de rainha.

bruna disse...

eu nem comentei ontem, mas me deu tesão pela may HEUAHUEHUAE tá, fui lá me matar, beijos, o texto está ótimo.

Jey disse...

"Vocês deviam me dar mais RT porque eu sou muito genial"
é sim, como toda boa rainha, may, como toda boa rainha...

Tangerina disse...

Não, fala sério. Que foda. Rainha May. (L) Não sei como tu consegue fazer isso, Júlia, não sei mesmo.

 
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