domingo, 1 de agosto de 2010

O paradoxo da Rainha de Copas

The Queen had only one way of settling all difficulties, great or small. 'Off with his head!' she said, without even looking round.
  
A Rainha de Copas, a despeito de seu status de rainha consorte, era ouvida pelo Rei em todas as suas idéias e objeções e mil maneiras de agradar o reino e seus súditos. A Rainha de Copas era uma boa rainha, melhor até regente do que consorte, mas satisfeita com seu status de consorte, humilde e sem ambições, a rainha que qualquer rei sonharia em ter e calhou de ser do Rei de Copas, que por sua vez não fazia muita questão de obediência, humildade e todo o resto. Isso tudo até a chegada do valete, valete também de Copas, mas sem a letra maiúscula da Rainha e do Rei; uma carta menor do baralho, ainda que permanecesse uma carta e fosse de Copas. A Rainha e o Rei de Copas não podiam ter filhos e por isso chegou o valete, um primo distante, eles não sabiam ao certo; o Rei e a Rainha de Copas tinham muito bom coração e não duvidaram do valete, que aliás não devia mesmo ter sido duvidado. O valete era um bom valete, posto que o valete é uma carta alta do baralho e serve bem a todos os jogos, exceto talvez os de truco e os de ler a sorte. Como no poeminha tão pouco conhecido, chegou o valete de Copas roubar a Rainha de Copas; ela perdeu sua humildade, seu espírito sem ambições e teria perdido o status de rainha consorte se o valete não a tivesse impedido. O valete não queria se casar com a Rainha de Copas; mal queria o trono que seria seu quer quisesse, quer negasse. O valete só queria suas festas e suas moças e seus moços e seus banquetes, e a Rainha de Copas queria o valete e o valete e o valete e o valete e o Rei de Copas, desgostoso e traído, nada disse, pois era muito mais moderado, comedido do que a Rainha de Copas; pelo menos, era mais moderado, comedido do que a Rainha de Copas quando a Rainha de Copas estava apaixonada, coisa que estava agora, e nunca estaria pelo Rei. O Rei de Copas procurou uma solução que satisfizesse a todos, mas a Rainha de Copas, que nunca deixara de ser bondosa, mesmo agora que não era humilde e angariava algumas ambições, queria uma solução que compensasse sua dor. Bem, julgou o Rei de Copas, ao ouvir as argumentações sempre sensatas da Rainha, é justo fazer perder a cabeça a quem fez perder o coração. Cortem a cabeça dele! As coisas são engraçadas.

Para quem sente falta delas, e de nós.

 
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