quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Criatura da noite

Ser rainha é tão mortalmente cansativo que não posso nem tentar começar a entender por que alguém viria a querer ser uma. Ser rainha, meus amores, minhas lindas, lamentavelmente não é escolha; sei que não escolhi, nasci rainha e nasci o pior tipo, o mais odiado, o mais colorido, o mais venenoso. Sabe que acho mesmo que quanto mais a gente sofre menos a gente entende? Então. Não entendo quem corre atrás da realeza. Ou você nasce rainha ou nasce pra ser rainha; outro jeito não tem, não adianta tentar, linda.

Eu nasci rainha, como já disse. A coisa se mostrou óbvia desde que eu era muito criança: não porque roubasse as maquiagens da minha mãe ou usasse os saltos dela, era algo próprio e que creio estar na minha pele, até hoje vejo nela, reluzente, a expressão clara de uma rainha: você viu isso nas maiores e vê em mim também. Depois, claro, vieram os saltos e as meias, que prefiro arrastão vermelha, trama grande; queria dizer que é por algum motivo filosófico do tipo nada me prende mas tudo me prende, mas prefiro arrastão vermelha da trama grande porque acho um tesão e tudo que faço nessa vida, meu amor, é expor a minha condição de rainha com o máximo possível de tesão. A minha cabeça quando for cortada — e há de ser cortada, toda sorte de navalha já passou pelo meu pescoço e falta nada pro corte da vez ser fatal — vai ter que ser cortada com elegância e com tesão. Por menos que isso eu não me dou o trabalho, não vale o meu suor.

 
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