She's a Killer Queen
Gunpowder, gelatine,
Dynamite with a laser beam
O reinado de Arthur durou trinta anos e depois ele foi dado como desaparecido. Foi pranteado e ganhou um enterro simbólico, com os melhores bardos da Inglaterra e violinos Stradivarius. A música que lhe foi dedicada fora decidida pela rainha, que não tinha qualquer noção de instrumentos ou notas, mas dera ao maestro uma idéia e supervisionara os arranjos. A rainha não derramou uma lágrima e o povo viu - mas o povo ficou ao seu lado. Guinevere desinteressante, Guinevere sem graça, Guinevere pudica. O povo adorava. O povo se enxergava nela. A perdedora que virou uma rainha só por causa de cavalos. Essa era a parte preferida dos contadores da história, porque até aquele momento todos já conheciam, bastava ter um avô vivo para saber. É que a lavadeira da rainha esfregou os lençóis mais vermelhos que o país já havia visto. E Guinevere não tentara esconder o machado. Ninguém sabia de onde ela tirara o machado. Talvez do jardim; talvez tivesse um caso com o jardineiro! Talvez tivesse pedido a Lancelote! Mas Lancelote chorava tanto pela morte do rei e definhara logo em seguida... a verdade que as histórias tentavam sondar era muito simples. Um dia Guinevere achou que já tinha esperado demais. Transformara-se numa violenta supernova. Sua força era tão grande e assassina que a galáxia seria reduzida a pó. Arthur fora dormir jurando à esposa que a Bretanha agora estava em paz e não acordara porque não se pode acordar sem uma cabeça colada ao corpo. O machado era muito pesado para as mãos delicadas e sem calos de Guinevere. A coroa era muito dourada para a cor apagada dos cabelos de Guinevere. Ela era tão doce e insignificante que sequer foi acusada de matar o marido. Afinal, Guinevere o amava. Talvez não como amava Lancelote, porque amar Lancelote era amar a vaidade e a vaidade era ela mesma, e acima de tudo Guinevere amava a si mesma, até que Lancelote definhou pela morte do rei e ela mandou enterrar o corpo de Lancelote no sul da Inglaterra, onde o verão durava seis meses, a milhas e milhas do corpo do rei. Mas Guinevere também amava Arthur e sua gentileza, Arthur e seu amor, Arthur e sua ingenuidade. E a coroa de Arthur. Com o corpo, a espada e a cabeça desaparecidos em alguma vala da Escócia, onde Guinevere seria enterrada dali a quinze anos, a cerimônia em memória do rei mais querido e controverso da Inglaterra - até aquele momento, é claro - terminou com a rainha subindo ao trono vazio e recolhendo a coroa. A coroa dourada, pesada, encrustada, arranhada, ferida, com sangue. A coroa de rei da Rainha. Guinevere ergueu-a aos céus e a trouxe devagar para a própria cabeça, com as próprias mãos, os próprios arranhões, feridas, sangue, a coroa que ela merecera por cada segundo de trinta anos, não pelos cavalos, mas pela força sideral que carregava, mais pesada do que a coroa, mais dourada do que a coroa. Todos a olharam. Guinevere era agora a jóia mais brilhante de todo o mundo. Ninguém questionou a Rainha do País do Verão e de Toda a Bretanha.